quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quando a morte já é uma questão, e, portanto, a vida é importante!






Férias. Ou domingo. Conversa entre menininha de 4 anos e a avó, enquanto passeavam por caminhos floridos em um lindo sítio, de mãos dadas.

- Aqui está tão bom, né vovó ?

- É mesmo!

-A gente, que ainda vai viver muuuuuuito (certamente incluindo a avó em sua preocupação), tem mais é que aproveitar muuuuito, né?

- Claro, disse a avó, esperando o que viria...

-É....porque....de repente... a morte chega!

Vovó até hoje e enquanto viver, não desconsidera esta observação.

Crianças são sábias pois estão o mais próximo da verdade que se possa estar!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Jaca e Jeca na quarta dimensão



Jaca e Jeca limpavam o Bag-Beg, relógio da Igreja de sua cidadezinha, cidade graciosa e pequena, mas sem muitas novidades, onde todos os dias eram iguais.Menos aquele.
Naquele dia, Padre Pafúncio fez a eles uma proposta irrecusável. Os meninos ouviram com desconfiança, pois nunca havia propostas novas naquela cidade! Muito menos, aquela, com a promessa de um grande saco de balas em pagamento!

A proposta era limpar o relógio para a festa de São João, quando às vinte e uma horas, pontualmente, começariam as barraquinhas, leilões, pescarias, brincadeiras de pau-de-sebo, e a banda de música da cidade tocaria as lindas e animadas músicas da quadrilha.
Os jovens e as crianças esperavam com ansiedade, pois era a única festa oficial que se comemorava na praça da igreja.


Assim, Jaca e Jeca, com muito cuidado, subiram até à torre, empoleiraram-se nos ponteiros e, munidos de balde, água e sabão, começaram a faxina do relógio.

Eis então, que, sentados, começaram a perceber o movimento estranho que os ponteiros começaram a fazer no sentido contrário, anti-horário.

Jaca observou:

-Ihhhhh! Ô Jeca, este troço está se movendo e cada vez mais rápido!


-Ihhhhh, Jaca! Não estou gostando deste negócio, não! Os ponteiros estão se mexendo rápido demais! Se nós estivéssemos numa roda gigante, num parque, tudo bem! Mas estamos fazendo um serviço de limpeza do relógio para o Padre Pafúncio!

-Uaaaaau!!!Está é dando frio na barriga e não estou enxergando mais nada e vooooocêeeeee??????


-Neeeemmmm me faaaaale! Nem sei mais onde estooooou!


Até que, de repente, os ponteiros pararam.

Os dois, completamente tontos tentaram se localizar. Viam tudo de cabeça para baixo. Mas havia algo estranho demais. Estariam loucos, depois daquele rodopio dos ponteiros? Teriam entrado em outra dimensão desconhecida?

As árvores, com as copas no chão e as raízes para o ar. Os carros, de roda pra cima, deslizavam seus tetos nas ruas. As casas, estranhas, tinham cabelos, narizes e, às vezes até bigodes! As pessoas andavam de cabeça para baixo, pernas pro ar, plantando bananeiras!

Avistaram um campo de futebol e a torcida se pendurava em varais, gritando animada, enquanto a bola corria atrás dos jogadores que tentavam se livrar dela! Falar a verdade, há até jogos em que a gente tem esta impressão, quando os jogadores jogam muito mal! Mas não era o caso!

E assim eles iam tendo uma surpresa atrás da outra. Vocês já ouviram dizer que o “o mundo ficou de cabeça pra baixo”, quando a gente quer dizer que a vida mudou de repente e de uma vez, seja pra bem ou pra mal. Mas Jaca e Jeca estavam mesmo vivendo esta realidade!!!

Desconfiaram que, sem querer, tinham, por obra de alguma mágica estranha, quem sabe até do Padre Pafúncio, aquele pão-duro, só para não lhes pagar com o saco de balas, tinham chegado à Quarta Dimensão, outra realidade que não era a nossa.


Que fazer? De cara, até que era divertido! Mas com o passar do tempo foram ficando tristes e enjoados de tanto ficar de cabeça para baixo. Pensavam na festa de S.João e na quadrilha, nas barraquinhas e, lógico, nas balas. Sem contar, que àquelas alturas, não sabiam quanto tempo se passara, as famílias deles já estariam preocupadas!


Jaca, então teve uma idéia:

-Se, rodando o relógio para frente, viemos parar aqui, se o rodarmos para trás, voltaremos para nossa década e para nossa dimensão!


Jeca rodou, então, o relógio para trás.


Mas havia coisas da Quarta Dimensão que agradaram muito a eles, principalmente o fato daquela mudança radical!

Jeca disse:

-Oh, nãaao! Vamos começar aquela chatice toda de novo! Tudo igual, todo dia!


Mas, olhando-se de banda, com cumplicidade os dois combinaram em segredo:


-Quando nós estivermos entediados, vamos nos oferecer ao Padre Pafúncio para limpar o relógio?


E desandaram a rir, aprontando-se depressa para as barraquinhas de São João.






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sábado, 26 de junho de 2010

Não é fácil simplesmente torcer pelo Brasil! Suzaninha que o diga!


 Suzana, que agora tem 3 anos, é viva, gozadora, irônica
No dia do amistoso Brasil x Tanzânia, a tia dela apareceu em casa com um uniforme completo, verde-amarelo do Brasil, com meião e tudo.
Disseram a ela que essas são as cores do Brasil, etc.
Como jovem e nova torcedora, cheia de alegria, veio ela na hora do jogo toda uniformizada, trazendo uma enorme bandeira do Brasil.
Quando os times entraram, ela começou a festejar os atletas de verde amarelo.
A Tanzânia vestia verde-amarelo!  
Explicaram à confusa Suzaninha que os verde amarelos eram de outro time.
 Como assim? Ela não entendia nada!
 Aí entra o Brasil, vestido de azul! Ai, ai, ai! Mais uma vez a perplexidade:
- "Os azuis são Cuzêlo, vovô? "
Mais explicações e ela sem entender nadica de nada !
Ofendida, quando as seleções se perfilaram para o hino nacional, ela notou.
-"Ih! São todos pêtos, né?"
Mais explicações de "esse é outro time, não é o Brasil" 
E mais confusão, pobre Suzaninha!
 Vai daí que ontem, no dia do jogo Brasil x Costa do Marfim, lá vai Suzana, linda e orgulhosa, uniformizada prá escolinha.
O porteiro de lá, um negro, também com camisa verde amarela, festejou:
-"Então Suzaninha, já tá uniformizada prá torcer pelo Brasil?"
 Ela olhou bem prá ele, muito friamente e disse:
- "É. Mas nós não somos do mesmo time!"
 Desde então, ela achou uma explicação aceitável prá ela:
 "Azul é Cuzêlo, verde-amarelo, se for "banco" é "Basil", se for "pêto" é do "outo time".
E estamos conversados.
 Quem é que consegue convencê-la de que não é bem assim?

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mentira ou exagero?

Um dia Bê aparece, cabeça baixa e tristonho, lágrimas nos olhos.
Não era sua atitude habitual, agitada, desatenta, pouco ligada ao que se falava com ele.
Senta-se e me confessa envergonhado:

- Meus colegas estão me chamando de mentiroso! Estou muito triste.

- Mas o que você imagina que os está levando a chamá-lo assim? Mentiroso?

- O que eu digo não é mentira, mas dependendo do caso, eu enfeito um pouquinho, senão o caso fica muito sem graça e ninguém vai me dar atenção!

-???

-Por exemplo, domingo meu pai matou uma cobra lá no sítio.

- É?? Respondi interessada.

-É!

-E como foi?

- Eu disse que era uma cobra de dois metros de comprimento e dois palmos de largura, parecia uma jibóia! Meu pai, quando ela abriu a boca para nos atacar, enfiou um pau atravessado na boca da serpente, para ela não nos engolir. Em seguida, tirou seu revolver da cintura e atirou seis vezes na boca do monstro! Não teve erro! Morreu na hora!

- E foi mesmo assim?

-Ah... mais ou menos! Era uma cobrinha de um palmo de comprimento e meu pai a esmagou com sua bota, de uma vezada só!
Agora me diga. Você acha que os meus amigos achariam graça nesta história?
- Você acha que o que falou é mentira ou exagero?

- Ah, sei lá!

- Bê, o problema é que você pensa que o que diz é pouco. Que o que é, é pouco. Daí exagera! Lembra quando tomou aquela injeção horrorosa, quando teve dor de garganta? A injeção danada doía mais que tudo? A danada doía tanto que ninguém conseguiria ficar calado ou não chorar?
- Lembro! Não derramei nem uma lágrima! Não dei nem um pio!
-Viu? Que é que você acha? A história da injeção é mentira ou exagero?
Bê ficou pensativo sobre o que seriam exageros para mais e exageros para menos, mas, exageros.
Muitos meses depois, por ocasião do Natal, levou-me um jogo de lençóis floridos de presente.
Agradeci-lhe, entusiasmada. Então ele disse:
- Amiga, não precisa exagerar! Foi um custo arrancar este jogo de lençóis de uma banca de liquidação da loja de meu pai, aquele “munheca” ! Foi o melhor que pude conseguir, mas não é nada de mais.
Não exagera. não!





sábado, 12 de junho de 2010

Dadó, a viralata


Era uma cachorrinha vira-lata, muito linda, de olhos cor de mel!


Porque não tinha dono, vivia virando latas de lixo, em busca de comida.


Andava atrás de qualquer um que a alimentasse.


Não tinha nome, porque não tinha dono.


Um dia ela acompanhava um vaqueiro que levava sua vaca

 para o pasto, quando passou perto de um lugar muito

 bonito.

 Estavam construindo uma casa e ela pensou:


-Ah! Como gostaria de ter um dono e um nome.


Como adoraria ter uma casa!


Como seria bom ter comida e carinho!


Eu ficaria tão feliz!


E, assim pensando, ela chegou perto da construção.


Um pedreiro viu aquela linda cachorrinha, chamou-a e lhe deu comida.


O pedreiro viu-a tão magrinha e suja e pensou:


-Ô gente, que pena! Esta cachorrinha dá dó!


Então ele começou a chamá-la assim: “Dadó”.


Dadó não se incomodou. Ficou feliz! Agora já tinha um nome! Quem sabe até já teria um dono?


Abanou o rabo e corria, corria de pura alegria! E pulava, comia, dormia, brincava, até ficou gordinha!


Os dias se passavam e a casa ficava, cada dia, mais linda.


E Dadó pensava:


-E quando a casa ficar pronta, o que será de mim? Será que vão me levar?Será que vão me deixar?


E aí Dadó ficava triste...


E um dia, finalmente a casa ficou pronta.


Vieram os donos da casa. Dadó olhou para eles desconfiada.


Os donos olharam para ela, curiosos, com carinho.


Dadó ficou tão aliviada!


-Será que vão ficar comigo?


Ela pensou, pensou e quase chorou.


Já viram cachorro chorar? Dá dó!


Então, veio o menino, filho dos donos da casa, que se chamava Léo.


Ele ficou encantado com Dadó e disse:


-Que cachorrinha mais linda! Que olhos cor de mel! Nunca vi vira-lata mais chique! Como ela é amável! Como abana o rabo! Como é que ela se chama?


O pedreiro disse:


-Ela se chama Dadó, porque quando chegou aqui, dava dó!


Léo disse:


- Ah, coitada! Mas agora ela está tão linda e bem cuidada! Posso ficar com ela?


O pedreiro disse:


-Pode, sim. Tenho que ir embora, agora que a casa está pronta e não poderei levá-la.


Léo corria pela grama e pulava de alegria e Dadó pulava atrás dele e abanava o rabo e latia.



Foi então que Léo parou e pensou:


De hoje em diante vou mudar o nome dela. Não será mais Dadó, porque ela não vai mais dar dó.


Vai ser Isadora!


Um nome muito bonito para uma cachorrinha muito linda e muito querida!


Isadora, se soubesse sorrir, sorriria. Mas ela só sabia abanar o rabo.


E assim ela fez.


Abanou muito e muito e muito o rabo!


De pura alegria!