Não era sua atitude habitual, agitada, desatenta, pouco ligada ao que se falava com ele.
Senta-se e me confessa envergonhado:
- Meus colegas estão me chamando de mentiroso! Estou muito triste.
- Mas o que você imagina que os está levando a chamá-lo assim? Mentiroso?
- O que eu digo não é mentira, mas dependendo do caso, eu enfeito um pouquinho, senão o caso fica muito sem graça e ninguém vai me dar atenção!
-???
-Por exemplo, domingo meu pai matou uma cobra lá no sítio.
- É?? Respondi interessada.
-É!
-E como foi?
- Eu disse que era uma cobra de dois metros de comprimento e dois palmos de largura, parecia uma jibóia! Meu pai, quando ela abriu a boca para nos atacar, enfiou um pau atravessado na boca da serpente, para ela não nos engolir. Em seguida, tirou seu revolver da cintura e atirou seis vezes na boca do monstro! Não teve erro! Morreu na hora!
- E foi mesmo assim?
-Ah... mais ou menos! Era uma cobrinha de um palmo de comprimento e meu pai a esmagou com sua bota, de uma vezada só!
Agora me diga. Você acha que os meus amigos achariam graça nesta história?
- Você acha que o que falou é mentira ou exagero?
- Ah, sei lá!
- Bê, o problema é que você pensa que o que diz é pouco. Que o que é, é pouco. Daí exagera! Lembra quando tomou aquela injeção horrorosa, quando teve dor de garganta? A injeção danada doía mais que tudo? A danada doía tanto que ninguém conseguiria ficar calado ou não chorar?
- Lembro! Não derramei nem uma lágrima! Não dei nem um pio!
- Lembro! Não derramei nem uma lágrima! Não dei nem um pio!
-Viu? Que é que você acha? A história da injeção é mentira ou exagero?
Bê ficou pensativo sobre o que seriam exageros para mais e exageros para menos, mas, exageros.
Muitos meses depois, por ocasião do Natal, levou-me um jogo de lençóis floridos de presente.
Agradeci-lhe, entusiasmada. Então ele disse:
- Amiga, não precisa exagerar! Foi um custo arrancar este jogo de lençóis de uma banca de liquidação da loja de meu pai, aquele “munheca” ! Foi o melhor que pude conseguir, mas não é nada de mais.
Não exagera. não!
Fragmento de vida, fragmento de verdade,fragmento de experiência, valioso quando se ouve uma criança de 6 anos.
ResponderExcluirParabéns pelo blog criantia e contos. Adorei. Gostei mais dos personagens. A
ResponderExcluircarapuça serve para todos. ( principalmente aquele que gosta de aumentar
tudo. Rsrsrsrs.Serviu direitinho.{O bom julgador por si se julga.
Rsrsrs!!!!} Um pouquinho de piano para você. Um beijão. Paulinho.