segunda-feira, 28 de junho de 2010

Jaca e Jeca na quarta dimensão



Jaca e Jeca limpavam o Bag-Beg, relógio da Igreja de sua cidadezinha, cidade graciosa e pequena, mas sem muitas novidades, onde todos os dias eram iguais.Menos aquele.
Naquele dia, Padre Pafúncio fez a eles uma proposta irrecusável. Os meninos ouviram com desconfiança, pois nunca havia propostas novas naquela cidade! Muito menos, aquela, com a promessa de um grande saco de balas em pagamento!

A proposta era limpar o relógio para a festa de São João, quando às vinte e uma horas, pontualmente, começariam as barraquinhas, leilões, pescarias, brincadeiras de pau-de-sebo, e a banda de música da cidade tocaria as lindas e animadas músicas da quadrilha.
Os jovens e as crianças esperavam com ansiedade, pois era a única festa oficial que se comemorava na praça da igreja.


Assim, Jaca e Jeca, com muito cuidado, subiram até à torre, empoleiraram-se nos ponteiros e, munidos de balde, água e sabão, começaram a faxina do relógio.

Eis então, que, sentados, começaram a perceber o movimento estranho que os ponteiros começaram a fazer no sentido contrário, anti-horário.

Jaca observou:

-Ihhhhh! Ô Jeca, este troço está se movendo e cada vez mais rápido!


-Ihhhhh, Jaca! Não estou gostando deste negócio, não! Os ponteiros estão se mexendo rápido demais! Se nós estivéssemos numa roda gigante, num parque, tudo bem! Mas estamos fazendo um serviço de limpeza do relógio para o Padre Pafúncio!

-Uaaaaau!!!Está é dando frio na barriga e não estou enxergando mais nada e vooooocêeeeee??????


-Neeeemmmm me faaaaale! Nem sei mais onde estooooou!


Até que, de repente, os ponteiros pararam.

Os dois, completamente tontos tentaram se localizar. Viam tudo de cabeça para baixo. Mas havia algo estranho demais. Estariam loucos, depois daquele rodopio dos ponteiros? Teriam entrado em outra dimensão desconhecida?

As árvores, com as copas no chão e as raízes para o ar. Os carros, de roda pra cima, deslizavam seus tetos nas ruas. As casas, estranhas, tinham cabelos, narizes e, às vezes até bigodes! As pessoas andavam de cabeça para baixo, pernas pro ar, plantando bananeiras!

Avistaram um campo de futebol e a torcida se pendurava em varais, gritando animada, enquanto a bola corria atrás dos jogadores que tentavam se livrar dela! Falar a verdade, há até jogos em que a gente tem esta impressão, quando os jogadores jogam muito mal! Mas não era o caso!

E assim eles iam tendo uma surpresa atrás da outra. Vocês já ouviram dizer que o “o mundo ficou de cabeça pra baixo”, quando a gente quer dizer que a vida mudou de repente e de uma vez, seja pra bem ou pra mal. Mas Jaca e Jeca estavam mesmo vivendo esta realidade!!!

Desconfiaram que, sem querer, tinham, por obra de alguma mágica estranha, quem sabe até do Padre Pafúncio, aquele pão-duro, só para não lhes pagar com o saco de balas, tinham chegado à Quarta Dimensão, outra realidade que não era a nossa.


Que fazer? De cara, até que era divertido! Mas com o passar do tempo foram ficando tristes e enjoados de tanto ficar de cabeça para baixo. Pensavam na festa de S.João e na quadrilha, nas barraquinhas e, lógico, nas balas. Sem contar, que àquelas alturas, não sabiam quanto tempo se passara, as famílias deles já estariam preocupadas!


Jaca, então teve uma idéia:

-Se, rodando o relógio para frente, viemos parar aqui, se o rodarmos para trás, voltaremos para nossa década e para nossa dimensão!


Jeca rodou, então, o relógio para trás.


Mas havia coisas da Quarta Dimensão que agradaram muito a eles, principalmente o fato daquela mudança radical!

Jeca disse:

-Oh, nãaao! Vamos começar aquela chatice toda de novo! Tudo igual, todo dia!


Mas, olhando-se de banda, com cumplicidade os dois combinaram em segredo:


-Quando nós estivermos entediados, vamos nos oferecer ao Padre Pafúncio para limpar o relógio?


E desandaram a rir, aprontando-se depressa para as barraquinhas de São João.






.

Um comentário: